Os Quinhentinhos

Os casos mais célebres de corrupção em Portugal têm um denominador comum – o FC Porto e seus dirigentes – e uma atroz coincidência: a Justiça condenou sempre os mais fracos e percorreu caminhos sinuosos para desculpar os verdadeiros corruptos.

As investigações começaram após publicação de um artigo do jornalista Marinho Neves. “Corruptos e bem pagos” explicava uma teia de corrupção e como se processavam os pagamentos a árbitros, a troca de favores e a compra de resultados. No final, apenas os dirigentes do Leça foram condenados.

No fundo, aconteceu exactamente o mesmo que se verificou agora com o Apito Dourado: todos os corruptos são apanhados pela Justiça, mas essa Justiça só condena os mais fracos e absolve o FC Porto, ou condena-o, noutros casos, com penas amigas, como perda de pontos que não fazem falta.

Em declarações à RTP, Marinho Neves lembra o caso, as suas semelhanças com o Apito Dourado e as incongruências da Justiça. No fundo, o Apito Dourado não é mais do que uma reedição das condenações ‘quinhentistas’, mas numa escala mais complexa.

“Aconteceram coisas estranhas, tal como estão a acontecer agora com o Apito Dourado. Por exemplo, na altura, Reinaldo Teles foi apanhado numa escuta telefónica em que falava dos célebres ‘quinhentinhos’ – os 500 contos que o presidente do Leça tinha de dar ao árbitro José Guímaro”, conta.

O jornalista acrescenta que essas escutas “representavam indícios claros” de que o dirigente do FC Porto “estava envolvido no caso”, pelo que Reinaldo Teles foi constituído arguido e investigado.

No entanto, nos ocultos bastidores da Justiça o caso foi abafado e os seus actores escaparam à investigação. “Passado algum tempo, e sem ninguém entender, Reinaldo passou de arguido a testemunha de acusação...”, recorda Marinho Neves.